Neuza Ladeira
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Neuza Ladeira por Adriane Garcia
A coragem de Neuza Ladeira
Por Adriane Garcia
Na definição de arte de Merleau-Ponty, arte é advento, o vir a ser do que nunca existiu.
Se é advento, vir a ser, invenção, é também promessa. O artista é aquele que gerará o antes nunca visto, ou seja, o mundo sempre novo.
E me lembrei desta definição de arte porque estava procurando uma na qual melhor se encaixasse pintura da artista plástica Neuza Ladeira.
Em seu ensaio A linguagem indireta e as vozes do silêncio, Merleau-Ponty nos diz que “o primeiro desenho nas paredes da caverna fundava uma tradição porque recolhia uma outra: a da percepção. A quase eternidade da existência humana encarnada e por isso temos, no exercício de nosso corpo e de nossos sentidos, com que compreender nossa gesticulação cultural, que se insere no tempo”.
Quem olhe atentamente sua obra verá que sua arte é puro acontecimento, pura percepção. Nada imita, tudo descreve de universos interiores e exteriores a partir de olhos muito próprios, os seus. Suas telas são feitas de desconstrução. Não está ali para mostrar a beleza numa arte pasteurizada ou mesmo comercial. E acaba por nos oferecer o belo que se situa no uso corajoso das cores, na denúncia do bizarro, da intrusão de suas flores num cenário distorcido onde podem surgir tanto noivas sonhadoras quanto figuras antropomórficas.
A pintura de Neuza ladeira revela dois elementos básicos da criação: o primeiro, a coragem; o segundo, a criatividade. O que me fez lembrar Rollo May, em seu livro A coragem de criar, que nos atenta para o fato de que o indivíduo pode ter talento, quer faça uso dele ou não, mas a criatividade só existe no ato.
E para o ato é preciso coragem.
Entre vermelhos, amarelos, verdes , azuis, rosas, dourados, brancos raros e fortes contornos pretos que por vezes invadem as telas, a harmonia que Neuza Ladeira consegue vem da coerência que casa tema e forma. Não tem medo das cores. Não está a falar de um mundo doce, mas está a desejar um mundo mais doce. Está a falar de um mundo violento, que ela própria experimentou, mas está a inserir buquês de flores. Flores com pinceladas rápidas, diáfanas, como os momentos felizes, que Neuza Ladeira repete, repete, mostrando o desejo de que continuem a surgir.
*Adriane Garcia é escritora. Historiadora pela Universidade Federal de Minas Gerais e pós graduada em Arte-Educação pela Universidade Estadual de Minas Gerais.
domingo, 3 de agosto de 2014
terça-feira, 8 de julho de 2014
segunda-feira, 7 de julho de 2014
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